CHAMADA ABERTA: Dossiê "Crise na e da história: desafio à escrita e à reflexão crítica" Revista Maracanan, edição 18 (2018)


Este dossiê propõe tratar da ideia de “crise”, considerando a sua amplitude semântica, mas, sobretudo, como provocação para a reflexão histórica, teórica e multidisciplinar. Assim, serão bem-vindos a compor a próxima edição da Revista Maracanan artigos que tratem de crise na e da universidade; crise das humanidades, como formas de conhecimento do mundo; e, crise enquanto problema histórico, empírico e teórico, em lato senso. Deste modo, a temática central acolhe escritos relativos a historicidades diversas, abrangendo diferentes marcos espaço-temporais e abordagens interdisciplinares. Nessa pluralidade, esperamos proporcionar indagações e reflexões instigantes aos mais diversos campos de conhecimento.

Não há dúvidas de que a crise está presente, como uma vivência que se desdobra em sensações de insegurança, insatisfação e espanto diante da realidade. A experiência do caráter movediço do presente alimenta atos vigorosos de repulsa aos poderes constituídos e às formas convencionais da política, da economia, do pensamento e das manifestações culturais. Se este é um cenário nacional ou latino-americano, os meios de comunicação, oficiais ou alternativos, mostram tratar-se também de uma questão mundial. Por sua vez, os ensaios e textos acadêmicos revelam que essa vivência da crise ou seu conceito recorrente atingem todo o âmbito das humanidades, seja no que se refere aos objetos de conhecimento das diversas áreas, seja no que tange à própria fragilização dos arcabouços teóricos que as sustentavam, sendo estas duas dimensões partes de um só horizonte. 


Acreditamos que as universidades, especialmente aquelas em processo acelerado de desmonte, como a UERJ, estão diante de desafios nunca antes experimentados. Contudo, o vocabulário da crise e sua relação com a crítica, como sublinhado por Reinhardt Koselleck, entre outros autores, não se restringem apenas a um diagnóstico do presente, mas remetem a um sentido projetivo marcado pelo futuro, quer como esperança, expectativa, utopia ou distopia. Pensar sentidos para a(s) crise(s) não significa, então, tratar somente de decadência, decomposição ou fim, pois crise impulsiona reelaboração. A etimologia mesma da palavra, em grego ou latim, remete ao ato de separar, discernir e, portanto, à decisão, julgamento, evento ou momento decisivo. Ao mesmo tempo, é evidente que não vivemos mais na mesma ambiência otimista da modernidade: a contemporaneidade, independentemente da alcunha que receba (pós-modernidade, modernidade tardia, quarta cascata da modernização, história do tempo presente, regime de historicidade presentista, entre outras), suscita novas perguntas e respostas, para novas e velhas questões. Mas quais as singularidades deste momento de crise em relação a outros períodos? Quais as particularidades do impacto atual nas humanidades, em relação a outras épocas?


Não há uma definição completa do que estamos vivendo. Nem mesmo uma solução final. Acreditar que a linguagem possa solucionar todos os impasses vivenciados pelas Humanidades parece forçoso. Acreditar que somente a abertura da universidade a outras vozes solucione nossos dilemas parece simplório. Acreditar que tenhamos a completa clareza do que vivemos e para onde iremos parece pueril. Vivemos algumas falácias e muitas falências; de projetos, de partidos, de um modelo de universidade.
Assim, diante de um cenário no qual a História não apresenta modelos fiáveis de orientação e no qual o futuro se mostra turvo, esse dossiê convida à reflexão, com o intuito de apresentar textos que, de algum modo, provoquem deslocamentos.

Organizadores:
Beatriz Vieira (UERJ)
Eduardo Ferraz Felippe (UERJ)
Thiago Lima Nicodemo (UERJ / Frei Universität Berlin)

Prazo para submissão: 31 de outubro de 2017

Lançamento da Edição: Janeiro de 2018

A Revista Maracanan também recebe artigos em fluxo contínuo que compõem regularmente todos os números publicados nas seções artigos livre, entrevistas, resenhas e notas de pesquisa.

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