A educação começa na cidade!







Minha primeira experiência como professor da rede pública foi horrível. Não consegui fazer nada do que queria, não entendia nada do que estava acontecendo e saía todo dia me sentindo derrotado. Apesar de umas migalhas de alegrias, foi um ano avassalador. Muitos professores debochavam das minhas angústias, a diretora gritava que os professores e alunos eram todos uns merdas e eu não sabia o que fazer em sala de aula. Fiquei triste e com a auto-estima no pé, quem conviveu comigo em 2005 teve que aguentar a minha chatice. Eu me sentia um lixo. 

No fim do ano comecei a dar aula no C. E. Murilo Braga e a história começou a mudar. Ali, em Teresópolis e em Duque de Caxias chorei, sorri, errei, acertei e aos trancos e barrancos inventei alguns caminhos na sala de aula e tento, desde então, lhes dar sentido. Nem ótimo, nem péssimo. Mas feliz, sem dúvida.

Desde sexta-feira voltei a me sentir como no meu primeiro ano. O governo estadual há tempos vem tratando os professores e a educação como um estorvo, uma despesa incômoda e inútil. Na sexta, foi a vez da prefeitura de Duque de Caxias e da Câmara de vereadores de lá, do alto dos seus salários e benefícios milionários, decidir retirar direitos e salários de nós professores. Senti novamente aquele gosto na boca de quem é tratado como dispensável. Como um lixo.

Mas não sou o mesmo de 2005, sei que esta sensação é temporária. Em sala de aula, todas as sensações são temporárias. Amanhã encontro meus alunos e, em meio a afetos, desavenças, aprendizados e trocas, vou fazer aquilo que gosto. Planejei uma aula com todo cuidado e carinho, o que pode resultar em uma aula ótima ou não. Mas é nas relações humanas, no diálogo com os estudantes que, por vezes, vejo sentido naquilo que faço. Muitas vezes caí em sala de aula, mas só ali me levantei. Estudantes sugam todas as minhas energias. Estudantes me alimentam. O meu trabalho é vivo por causa delas e deles. Meu desejo de tentar descobrir como dar aula morre, renasce, remorre, revive por causa das e dos estudantes. Ali está a minha chama, só em sala de aula ela pode se apagar.
Não adianta vir de graça seu prefeito, seu vereador. Vocês não podem matar o meu tesão em dar aula. Vocês não podem matar o que não lhes pertence.
5 de agosto de 2017
Pedro Castanheira
Professor do Município de Caxias
Mestre em Educação pela UERJ-Maracanã

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