A Uerj Resiste?
A fala do Reitor toca nos pontos centrais que vivemos. No começo deste ano, a própria reitoria definiu que não havia condições das aulas começaram. Com condições menos que mínimas, nós retomamos as aulas. O fato é que existia uma expectativa de que, ao longo do semestre, tudo ficaria melhor. Não foi assim. Porém, não foi apenas a situação que permaneceu como antes; a própria postura política permanece, implícita ou explicitamente, a mesma.
Na fala do Reitor é evidente que a expectativa, a “luz no
fim do túnel”, depende de algum tipo de resposta do governo. Um segundo ponto:
a ênfase de que há um diálogo aberto com o estado. O reitor afirma que 20 dias atrás aconteceu uma
reunião com o governador. A questão, porém, é: o que um canal de interlocução nos garante hoje em dia? Como confiar nas palavras deste governo?
A dúvida que fica é a seguinte: conviver com o que temos convivido já não é
derrota? A
impressão é que sempre existe um degrau mais baixo que justifica nosso medo. Mas a queda não é, antes de
tudo, a certeza de que as coisas são simplesmente
assim e que não há nada a fazer? O medo de que a Uerj pode fechar não é, no limite, aquilo que nos
garante um constante e progressivo movimento de resistência e, ao mesmo tempo,
de conivência?
Não há mais o que dizer aos 500 terceirizados demitidos em
2016 depois de mais de 6 meses sem receber. Não há o que falar sobre a
descarada verdade de que o sacrifício que permite o funcionamento da
universidade é daqueles que, ao fim, não aparecem como autores da permanência da
instituição. Sabemos, também, que muitos na UERJ falam em nome e em luta contra
a terceirização. Em 2016 foram feitas muitas ações pelos terceirizados. A
verdade é que a comunidade uerjiana pouco aderiu a esses atos. Nem estudantes,
nem professores e nem técnicos.
A fala do Reitor nos
representa? Ainda assim é necessário assumir: a tarefa de intensificar nossa vida
política para dentro e para fora não vai acontecer por cima.
A necessidade dessa
intensificação nasce de uma questão que não há quem responda: um canal de diálogo com o governo, hoje,
garante exatamente o quê?
A pergunta lenineana é central na atual situação política da Uerj, e do estado do Rio por extensão: "que fazer?" O governador já demonstrou que não existem canais de diálogo e os fluminenses aparentam esgotados com o desgoverno que se apresenta. Diante de um estado falido e de nenhuma iniciativa para reverter tal circunstância, a população fluminense e a comunidade acadêmica da Uerj vão tentando sobreviver aos trancos e barrancos num cotidiano árido e cada vez mais desprovido de expectativas positivas. A população é vítima de um governo eleito com baixa representatividade para administrar uma crise que já estava no horizonte de expectativa em 2014, o problema é que tal administração não só é ineficiente, mas inexistente. Trata da crise como uma criança trata um problema num momento lúdico, evitando encarar. A crise do estado do Rio ultrapassa a Uerj. Diante disso, "que fazer"? É preciso pensar em formas criativas de crítica, mas, antes de mais nada, formas criativas de pensar a saída da crise a partir dos pensadores e cientistas da Uerj, tendo em vista a inércia do desgoverno.
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